Sim, começou o grande evento da música no ano de 2011, o Rock in Rio. E digo evento da música porque a alcunha de rock já deixou de brilhar sozinha faz tempo, infelizmente. Na verdade nunca o festival foi 100% dedicado ao rock, afinal o primeiro em 1985 tinha no seu cast nomes como Ivan Lins e James Taylor, por exemplo. O segundo apresentava New Kids on the Block, Debbie Gibson e George Michael e o terceiro escancarava de vez com Sandy & Júnior, Britney Spears, Five e ‘N Sync.
O Rock in Rio deste ano não está sendo diferente, dando espaço para todos os estilos musicais. Logo no primeiro dia, o dia pop, tivemos até axé, com Claudia Leite, que tentou fazer jus ao nome do evento com uma cover de Dyer Maker do Led Zeppelin. A bela Katy Perry fez um show bem divertido e Rihanna para mim foi a grande decepção, fechando a primeira noite com pouco entusiasmo. Dias depois fiquei sabendo que ela teve que ser atendida às pressas antes do show por causa de sérios problemas na garganta. Dois foram os destaques da noite para mim. Primeiro, o show de abertura com Titãs e Paralamas do Sucesso. É sempre legar ver as bandas que marcaram sua adolescência. E depois a apresentação do sempre competente Elton John, que merecia ter fechado a noite. Não tem como não se emocionar com canções como Tiny Dancer e Skyline Pigeon, dentre muitas outras.
O segundo dia de festival teve altos e baixos. O show de Mike Patton do Fatih no More cantando músicas em italiano com a Orquestra de Heliópolis no palco secundário foi impagável. O cara é sensacional! No Palco Mundo (principal) tivemos um NXzero esforçado, mas claramente deslumbrado e assustado com a magnitude do espetáculo, um desconhecido, porém muito bom Stone Sour (banda do vocalista do Slipknot) que conseguiu cativar o público com um som pesado e muito bem feito, e um Capital Inicial que sabe como poucos entreter um público, com seus eternos clássicos. Penúltima banda da noite, o calmo Snow Patrol sofreu com a péssima capacidade dos organizadores do evento em termos de escalação. Gosto da banda, tem músicas lindas como Run, Chasing Cars e Open Yor Eyes, mas estavam no dia errado. Deveriam abrir para o Coldplay. O Red Hot Chili Peppers fechou a noite com a animação de sempre, a extrema competência do baixista Felea e privilegiando os clássicos da fase mais recente do grupo (senti falta de músicas antigas como Fight Like a Brave e Knock me Down) e ainda fizeram uma bela homenagem para o filho da atriz Cissa Guimarães que morreu meses atrás.
Para a alegria deste jornalista, a terceira noite foi a do metal, e foi sem dúvida a melhor. Pra começar outra pisada de bola. Deixar a lenda Sepultura no palco secundário e os desconhecidos paulistas do Glória no palco principal é uma tremenda sacanagem. Resultado: vaias incessantes para os novatos que tem no espetacular baterista Eloy Casagrande seu grande destaque. Por falar em Sepultura, a banda acompanhada dos franceses do Les Tambours Du Bronx fizeram um ótimo show. Antes deles o Korzus também foi muito bem e o Angra acompanhado da cantora finlandesa Tarja Turunen sofreu muito com o péssimo som, que o diga o vocalista Edu Falaschi que deu boas desafinadas.
Depois do Glória foi a vez dos desconhecidos norte-americanos do Coheed and Cambria mostrarem seu metal progressivo muito louco. Boa banda. Os caras mandaram bem, principalmente com a cover The Trooper do Iron Maiden, banda que sempre deve ser lembrada quando se fala em Rock in Rio. O clássico Motorhead sofreu com problemas de som, mas Lemmy e Cia. agitaram o público com hinos como Ace of Spades e Overkill, com participação especial do guitarrista Andreas Kisser do Sepultura. Os mascarados do Slipknot vieram em seguida e literalmente detonaram. Paulada atrás de paulada, muito jogo de cena, climas de filme de terror, boa música, domínio do público e performances mais do que energéticas dos músicos, com direito a stage diving e tudo mais. Um show na acepção da palavra, talvez o melhor até agora. Para fechar a noite, o Metallica mostrou por que é uma lenda do metal mundial. Que belo show! Clássicos atrás de clássicos. Os caras continuam excelentes ao vivo. James Hetfield é outro que sabe muito bem como interagir com os fãs. E já estava mais do que na hora do Metallica se apresentar no Rock in Rio original. Músicas como Creeping Death, One, Enter Sadman, Master of Puppets, Whiplash e Seek & Destroy fazem parte da enciclopédia básica de qualquer fã do rock pesado.
Esta foi a primeira parte do festival. Nesta semana ainda teremos a promessa de ótimos shows, afinal vem coisa boa por aí: Guns N’ Roses, System of a Down, Evanescence, Stevie Wonder, Coldplay, além de algumas “papagaiadas” dos organizadores. Mas isso faz parte, afinal festival de música é assim mesmo, deve agradar a gregos e troianos mesmo quando o nome do evento é Rock in Rio.